segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Entrevista - Verbos



















ENTREVISTA JORNALÍSTICA: VERBOS E LOCUÇÕES VERBAIS

Emprego dos discursos direto e indireto no texto da entrevista
Pesquisa: Professora Drª. JOANITA MOTA DE ATAIDE

Emprego de verbos declarativos ou dicendi em matérias do jornalismo brasileiro contemporâneo, elaboradas com base em entrevistas. Pesquisamos em jornais e revistas de diferentes naturezas e periodicidades, durante as décadas de 80 (segunda metade) e de 90. O resultado acha-se no glossário de mais de 300 verbos, abaixo.

1 Classificação:
Othon M. Garcia (1986, p.129ss) adota uma classificação dupla para os verbos usados nos diálogos, encontrados na literatura de ficção (romances, contos), dos quais a entrevista jornalística faz amplo emprego. O narrador pode optar pelo discurso direto – transcrição da fala do interlocutor – ou pelo discurso indireto – isto é, a transmissão da essência do pensamento do entrevistado.

1.1– Classe: Verbos declarandi ou dicendi (de declaração)

1.1.1– Definição: São os verbos de elocução. A elocução refere-se à maneira pela qual alguém se expressa, quais palavras usa para fazê-lo.

1.1.2– Áreas semânticas: (GARCIA, 1986, p.131)

DIZER – afirmar, declarar;
PERGUNTAR – indagar, interrogar;
RESPONDER – retrucar, replicar;
CONTESTAR – negar, objetar;
CONCORDAR – assentir, anuir;
EXCLAMAR – gritar, bradar;
PEDIR – solicitar, rogar;
EXORTAR – animar, aconselhar;
ORDENAR – mandar, determinar.

1.2– Classe : Verbos sentiendi ou de sentir (assim chamados, por analogia aos dicendi).

1.2.1– Definição: Esses verbos são vicários ou variações dos verbos de elocução, pois fazem as vezes destes. Ou seja: do ponto de vista lógico-sintático presumem a existência de um legítimo dicendi oculto. Mas, como variação dos dicendi, expressam a carga de afetividade presente na língua falada.

1.2.2– Áreas semânticas: Expressam estado de espírito, reação psicológica, emoções, atitudes, gestos, etc. Ex. (Othon Garcia, op. cit.): GEMER, SUSPIRAR, LAMENTAR(SE), QUEIXAR-SE, EXPLODIR, ENCAVACAR, etc.

1.3– Funções:

1.3.1– Indicar o interlocutor que está com a palavra.
1.3.2– Permitir a adjunção de orações adverbiais (quase sempre reduzidas de gerúndio) ou expressões de valor adverbial, com que o narrador sublinha a fala das personagens, anotando-lhes a reação física ou psíquica. Em síntese, a função dos verbos dicendi é retratar o comportamento – em determinada circunstância - ou mesmo o caráter das personagens.
Ex.: “Eu tenho aqui uma lista de nomeações do PL para encaminhar”, disse Costa Neto entregando... Hargreaves não titubeou. Sem olhar a lista, foi logo prometendo: “Pode deixar comigo. Vou examinar com todo carinho”. (IstoÉ, 2.6.1993, no. 1235, p.21)
Segue glossário de verbos dicendi e sentiendi.

Abordar; Admirar-se; Ajustar; Ameaçar; Acentuar; Admitir;
Alardear; Amenizar;Aconselhar; Admoestar; Alegrar-se;
Anotar; Acreditar; Advertir; Alertar; Analisar; Acrescentar;
Alegar; Alfinetar; Animar(se); Acusar; Afirmar; Aludir;
Antever; Adiantar; Ajuntar; Alinhar; Anuir; Anunciar;
Compreender; Denunciar; Endossar; Apontar;

Comprometer-se; Deplorar; Depor; Enfatizar; Apostar;
Comprovar; Derramar-se; Enfocar; Apregoar;
Comunicar; Desabafar; Engatilhar; Argüir;
Conclamar; Desafiar; Ensinar; Arriscar; Concluir;

Desarmar-se; Entender; Argumentar; Concordar;
Descansar; Entusiasmar-se; Arrematar; Condenar;
Descartar; Enumerar; Arrolar; Confessar;
Escobrir; Esbravejar; Assegurar; Confiar; Desconfiar;

Escandalizar-se; Asseverar; Confidenciar;
Desculpar-se;Escapar; Assinalar; Confirmar;
Desdenhar. Ensinar; Gritar; Ponderar;
Esclarecer; Assustar-se; Confundir-se; Desenvolver;
Entender; Historiar; Precisar; Esconjurar; Atacar;
Congratular-se; Desesperar-se; Espantar-se; Atestar;
Conjecturar; Desmentir; Esquivar-se; Atribuir;
Consolar-se; Destacar; Estabelecer; Avaliar; Constatar;
Determinar; Estimar; Avisar; Contabilizar; Devolver;
Evidenciar; Balbuciar; Contar; Diagnosticar; Exagerar;
Bradar; Contemporizar; Discordar; Exclamar;
Bravatear; Contestar; Discorrer; Exemplificar;
Brincar; Contra-atacar; Discursar; Exigir; Eximir-se;

Calcular; Contradizer; Disfarçar; Exortar; Explanar;
Censurar; Contrapor-se; Disparar; Explicar;
Chamar a atenção; Credenciar-se; Distinguir;

Explicitar; Citar; Crer; Divertir-se; Explodir;
Classificar; Criticar; Dizer; Expor; Cobrar;
Decepcionar-se; Elogiar; Expressar-se; Comemorar;

Declarar(se); Elucidar; Exprimir-se; Comentar;
Defender(se); Emendar; Extasiar-se;
Comparar; Definir(se); Emocionar-se; Externar;

Complementar; Deixar escapar; Encavacar; Exultar;
Completar; Demonstrar; Encerrar; Falar; Fazer coro;
Mentalizar; Raciocinar; Resumir; Festejar; Minimizar;
Reafirmar; Retrucar; Filosofar; Mostrar; Reagir; Revelar;

Finalizar; Murmurar; Rebater; Revidar; Frisar; Narrar;
Negar; Receitar; Revoltar-se; Fulminar; Nomear; Notar;
Reclamar; Rezar; Gabar-se; Objetar; Recompor-se; Rugir;
Garantir; Observar; Reconhecer; Sacramentar; Gemer;
Gritar; Opinar; Recordar(se); Salientar; Hiperbolizar;
Ordenar; Redimir-se; Segredar; Historiar; Ordenar;
Refazer-se; Sentenciar; Identificar; Orgulhar-se;

Refletir; Simplificar; Ilustrar; Pedir; Reforçar; Sintetizar;
Imaginar; Penitenciar-se; Regalar-se; Solicitar;
Incentivar; Pensar; Registrar; Sonhar; Indagar;
Perguntar(se); Regozijar-se; Sublinhar; Indicar;
Ponderar; Rejeitar; Sugerir; Indignar-se; Precisar;
Rejubilar-se; Supor; Informar; Preconizar;
Relacionar; Suspirar; Insistir; Predizer; Relatar;
Sussurrar; Interpretar; Pregar; Relativizar; Sustentar;
Interrogar; Preocupar-se; Relembrar(se); Tachar; Temer;
Ir (mais) além; Prever; Rememorar; Teorizar;

Ironizar; Irritar-se; Proclamar; Replicar;
Terminar; Isentar-se; Profetizar; Resguardar-se;
Testemunhar; Jurar; Prognosticar; Resignar-se;

Titubear; Justificar(se); Propor; Resistir; Transmitir;
Lamentar(se); Propugnar; Resmungar; Trombetear;
Lamuriar-se; Prosseguir; Responder; Vaticinar Lembrar(se);
Protestar; Responsabilizar-se; Ver; Viajar; Limitar-se a dizer;
Provocar; Ressaltar; Vibrar; Manifestar-se; Queixar-se;

Ressalvar; Vociferar; Maravilhar-se;
Questionar; Ressentir-se; Zombar;

2 VERBOS E PRONOMES NOS DISCURSOS DIRETO E INDIRETO

2.1– Salvo em casos excepcionais, há correspondência regular entre os tempos e os modos verbais. Assim, quando o verbo da fala está no presente do indicativo e o da oração justaposta, no pretérito perfeito, o primeiro verbo vai para o pretérito imperfeito do indicativo, mas o segundo não sofre alteração.

DISCURSO DIRETO
DISCURSO INDIRETO


– Vou realizar muitos projetos neste ano, disse-lhe.
Disse-lhe que iria realizar muitos projetos naquele ano.

OBS.: Caso a ação declarada na oração integrante (discurso indireto) perdure no momento em que se fala, o verbo mantém-se no presente do indicativo: “Disse-lhe que estou com preguiça neste ano”. O demonstrativo – neste – permanece também inalterado.

2.2– Se ambos os verbos – o da fala e o da oração justaposta – se acham no presente do indicativo, assim permanecem no discurso indireto; o mesmo ocorre com o pronome (demonstrativo):

DISCURSO DIRETO
DISCURSO INDIRETO

– Estou sem planos neste ano, diz-lhe.
Ele diz que está sem planos neste ano.

OBS.: O verbo dicendi vem no presente do indicativo somente quando há um mediador entre o autor da fala e o destinatário do texto.

3– POSIÇÃO DO VERBO DICENDI /SENTIENDI

3.1– No Discurso Direto de moldes tradicionais (que vigoraram até o início da escola realista), o verbo dicendi vem no meio ou no fim da fala, e excepcionalmente antes.

3.2– No jornalismo contemporâneo, encontramos mais freqüentemente o verbo dicendi/sentiendi no fim das frases. Essa localização se deve ao fato de as frases reproduzidas serem de pequena extensão.
Ex.: “Todo mundo diz que as fofocas saem do Palácio”, disse Corrêa. (IstoÉ, 2.6.1993, no. 1235, p.21)

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Aprenda a escrever, aprendendo a pensar. 13.ed. Rio de Janeiro: FGV, 1986. (Biblioteca de Administração Pública, 14)

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