domingo, 2 de setembro de 2007

Realidade

Existem revistas como Carta Capital, Caros Amigos e Primeira Leitura, que, cada uma a seu estilo, causam reflexões. Mas não chegam a provocar os leitores pós-modernos da mesma forma que o fez Realidade em sua época áurea (1966-1968). Somadas, as respectivas tiragens dessas três revistas atuais citadas - 56.500, 55.000 e 25.000 - atingem apenas cerca da metade dos 250.000 exemplares da primeira edição de "Realidade" (abril de 1966), esgotada em três dias.

A equipe de redação de Realidade soube entender sua época e, apesar da censura imposta pelo regime militar, destacou-se pela sua principal característica, que era a ousadia, a irreverência, permitindo ao leitor conhecer vários ângulos das questões abordadas, incluindo pesquisas de opinião.

Desde seu lançamento até 1968, a revista viveu seu apogeu. Manteve-se no mercado até 1976, mas já não possuía a mesma força após a edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5) em dezembro de 1968.

No período de maior tiragem da revista, a contracultura estava em alta. Contra valores como família, casamento, capitalismo. Contra o individualismo do homem pós-moderno, a artificialidade dos produtos expostos em supermercados e a industrialização. Os hippies pregavam a vida em comunidade, o cultivo de produtos orgânicos, valorizando a natureza e ainda difundiam o Artesanato.

Muitas vezes, o texto era redigido em primeira pessoa, destacando a vivência do repórter, tornando-se, assim, parte integrante da história. O fato de experimentar e relatar os próprios sentimentos em relação ao fato leva a uma comparação com o New Journalism, expressão americana para definir um jornalismo que trabalhava com arte, emoção e linguagem jornalística tratada literariamente.

Em uma edição especial de janeiro de 1967, Realidade reportou as transformações na vida da mulher brasileira. Toda a edição foi apreendida por ordem do Juizado de Menores da Guanabara (hoje Rio de Janeiro).

Esta edição tratava da nova condição da mulher na sociedade, abordando temas como virgindade e aborto, trazendo ilustrações do aparelho reprodutor feminino, fotos do momento do parto, histórias de casamentos desfeitos; perfis de pessoas religiosas envolvidas em questões sociais, de uma mãe solteira orgulhosa de sua condição e de Ítala Nandi, que foi símbolo do rompimento dos padrões conservadores, proclamando a independência e a liberdade feminina.

As visões de mundo apresentadas pela revista sempre destacaram fatos importantes que marcavam a história de forma contundente, já que refletiriam em mudanças em todos os espaços geográficos, procurando sempre enfocar as que infligiriam ao Brasil maiores alterações.

O exemplo mais forte da revista: o jornalista José Hamilton Ribeiro foi enviado aos campos de batalha do Vietnã, cuja experiência é nitidamente a radiografia da filosofia de Jornalismo praticada pela revista. Ao longo de 12 páginas o repórter remonta a aventura e o drama que viveu na Guerra e a foto, na capa da revista, revela o momento em que José Hamilton foi socorrido após a explosão de uma mina que causou a amputação de sua perna esquerda.

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